A maioria das linguagens segue um de dois caminhos extremos no tratamento de variáveis.
Um dos caminhos é aquele que exige que cada variável seja declarada, como ocorre em C, Pascal, Java etc. O curioso é que várias linguagens obrigam o programador a declarar uma variável, mas nem todas elas obrigam o programador a inicializar a variável antes de usá-la, o que gera bugs que às vezes são difíceis de achar.
Ou seja, tornar obrigatória a declaração da variável é algo que facilita a vida do compilador, mas não necessariamente resolve o problema do programador. Claro que os compiladores modernos reclamam quando encontram variáveis que nunca foram inicializadas em expressões, mas isso é um remendo.
O outro caminho, radical na direção oposta, é o das linguagens que não obrigam a declaração da variável e nem a sua inicialização. É uma tentativa equivocada de simplificar a vida do programador. Linguagens que seguem essa linha são JavaScript, PHP, Perl, Basic e outras chamadas "linguagens de scripting". Em algumas delas (Perl, VisualBasic) você pode mandar o interpretador reclamar quando encontra uma variável não declarada, mas esta opção não costuma ser o default. Em alguns casos a variável não inicializada tem um valor especial como "undefined" ou "null".
Nestas linguagens, a ocorrência de uma variável não inicializada em uma expressão geralmente faz com que ela seja avaliada com algum valor default, tipo 0 (zero) se for uma expressão numérica ou "" (string vazia) etc. Tudo isso faz com que ocorram bugs muito chatos de encontrar, porque se o nome de uma variável é soletrado incorretamente, o programador não é avisado e um valor sem sentido é introduzido no programa. Em projetos grandes, isso se torna um problema muito grave, e é um dos motivos pelos quais os adeptos de abordagens mais rigorosas consideram que as linguagens de scripting não são "sérias".
Python escolheu o caminho do meio, o mais sensato na minha opinião. Não é preciso declarar variáveis, até porque tal declaração não teria muita utilidade em uma linguagem de tipagem dinâmica onde o tipo está vinculado ao objeto, e não à variável. Mas Python exige que você inicialize uma variável antes de usá-la. Veja:
>>> b = a + 1
Traceback (most recent call last):
File "<stdin>", line 1, in <module>
NameError: name 'a' is not defined
Então isso obriga você a escrever:
>>> a = 3
>>> b = a + 1
>>> print a, b
3 4
Note que como toda variável precisa obrigatoriamente ser inicializada, isso é mais útil do que a exigência de que ela seja simplesmente declarada. Porque evita valores inválidos, e o momento da atribuição acaba funcionando como uma declaração também.
O modo como Python lida com identificadores, não só neste aspecto, mas também no seu sofisticado sistema de namespaces, evita conflitos de nomes e é um dos fatores que torna Python atraente para projetos de larga escala. Ruby adota a mesma filosofia de Python quanto à inicialização de variáveis, mas não tem o suporte a namespaces.
Este é apenas mais um exemplo de como Python é uma linguagem "simples e correta", como definiu meu amigo Geraldo Coen.
4 comments:
Caminho do Meio ... Python seria, então, Budista?
Excelente texto, parabéns Luciano! :)
É verdade. Já perdi inúmeras horas de depuração por causa de variáveis não inicializadas nessas outras linguagens. Mais um ponto pro Python, que diz exatamente onde está o problema caso ele ocorra.
Precisa dizer que eu nunca parei pra pensar nisso? Na verdade, sempre encarei esse comportamento de modo natural, como o sendo o mais sensato.
Graças a Deus eu trabalho majoritariamente com Python no dia-a-dia.
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